[RP FECHADA] Those three words now are home

Despertei em um quarto tão quase impecável, salvo alguns danos irreparáveis em alguns objetos da decoração e na pintura da parede, mas não fossem tais provas, teria amanhecido duvidando da realidade da noite passada. A noite fora de confusão tamanha que levo alguns segundos para voltar à realidade.
Assim que me levanto encontro um bilhete de Aalyah em meu travesseiro. Me permito um sorriso antes de longas horas de total desespero. Tomei um longo e demorado banho, como se quisesse derreter embaixo d'água, enviei uma coruja para Corella avisando que passaria no laboratório pelo horário do almoço para falar com ela e me preparei para o trabalho.
Por volta do meio dia aparato na porta do laboratório e pergunto por Corella. Ela logo aparece com um olhar intimidador o suficiente para eu saber que estou metida em encrenca, mas me deixa claro que teve imprevistos no trabalho e que não pode conversar.
"-Cor... Então, deixa eu só te perguntar uma coisa? Você acha que ela está mentindo pra mim?- Corella me olha com seriedade, pondo as mãos nos meus ombros. -Você sabe a resposta."
Deixo o Profeta Diário às 18h e corro para casa. Ainda tinha uma hora antes do horário e definitivamente não seria capaz de passar mais tempo me sentindo a própria cria da Kate Middleton com a pantera cor-de-rosa.
No intervalo de tempo em que se toma um banho e se sai para um café, me demorei para escolher entre uma roupa e outra e chego ao local com algum atraso. Tomo alguns segundos antes de encontrar Aalyah sentada em uma mesa longe do balcão, mas perto da janela. Velhos hábitos nunca mudam. Meu coração palpita no peito e minhas mãos estão frias e úmidas. Aalyah puxa a cadeira para eu me sentar e aceito a gentileza, bastante desconcertada.
-Oi! - Respondo, deixando escapar uma risada nervosa. - Desculpe pelo atraso, fui em casa me trocar e... já sabe. Aliás, obrigada por limpar aquela bagunça.

-Então... Quanto a isso, eu acho que eu vou ter o que resolver com a Corella. Só não sei qual é a proporção do problema, mas certamente não ver aquela bagunça evitou que ela arrancasse miha cabeça durante o sono, então, você salvou minha pele mesmo assim.
Um sorriso bobo me escapa os lábios e me pergunto o quão cedo ela acordou para limpar aquele escarcéu. Estava difícil o clima entre nós duas parecer normal. Havia amor, medo, ressentimento, nervoso e outros mil sentimentos empilhados em uma única mesa de um café e é impossível dizer que o desconforto não era palpável.
Ela parecia tão perdida quanto eu enquanto se embolava entre suas próprias palavras e tudo o que eu conseguia fazer era sorrir de nervoso diante de tudo.
-Ahn... Eu acho que vou que...
-Niara, eu não estou sendo boa com as palavras, atos ou qualquer coisa essa noite. Eu estou tremendo, suando frio, meu coração está a mil, estou parecendo adolescente. Parece que eu tenho treze anos, quando eu te pedi em namoro. Eu já te disse tudo o que deveria ter dito e não sei mais o que fazer e ainda teve ontem a noite. Me perdoa, volta para mim, só volta? Eu te amo tanto, tanto tanto!
Escutei Aalyah de olhos fechados, com a certeza de que todo o estabelecimento era capaz de ouvir meu coração percutindo em meu peito. Respiro fundo e fico em silêncio por um tempo. Sinto nossas mãos cada vez mais frias, mas abro os olhos e deixo as palavras saírem cambaleantes e desgovernadas.
-Lyah... Eu não estou pronta pra te perdoar, porque só eu sei o que foi desmarcar cada detalhe do nosso casamento sozinha, ter que explicar pro mundo que eu não tinha ideia de onde você estava e encarar aquela cama gigante a noite. - Respiro fundo tentando evitar que as lágrimas que enchiam meus olhos escorressem.-Mas a verdade é que eu já não acredito que na nossa história haja muito o que se perdoar, porque eu realmente estou disposta a acreditar que não houve maldade. -Aalyah parece voltar a respirar, mas as palavras continuam a sair da minha boca como um turbilhão.- E, de qualquer maneira, eu nunca estive pronta pra ficar sem você e acredito que nunca vou estar, então... -Limpo as lágrimas do rosto. - Então a única coisa que eu pude ter na noite passada foi a certeza de que passou e que não sou capaz de viver sem você mais um ano, porque eu te amo, Aalyah. Eu te amo...

Aalyah volta a se desculpar, mas faço um gesto dispensando o pedido. Àquela altura do campeonato estava tão farta de tentar entender porque que tudo o que eu queria era esquecer que tivemos uma briga tão séria.
-Eu não sobreviveria nem mais um mês sem você.
Meu coração pulava dentro do peito, mas mantive a pose de quem em nada estava se afetando por alguns segundos. Um garçom nos deixa duas bebidas e o agradeço um pouco confusa.
-Casa comigo?
A surpresa nos meus olhos era inegável, até porque era a última coisa que esperava ouvir nessa noite, mas um sorriso ilumina meu rosto enquanto Aalyah ri do meu espanto. Para quem levou mais de 10 anos para me pedir em casamento, dessa vez estava com bastante pressa.
-Só se você me jurar que vai usar um vestido branco de princesa. - Brinco, fazendo uma coroa com as mãos. - Posso tomar um gole desse café despreocupada ou tem alguma coisa que possa me entalar no copo, senhorita?

Observo Aalyah pegar à caixinha das alianças já sabendo o que vinha pela frente. Reconheceria aquela caixa até de olhos fechados. -Olhe, Lyah, eu aceito quase tudo, mas teremos que negociar esse papo de maternidade. - Deixo escapar uma gargalhada e estendo a mão para que ela possa colocar a joia. Nada contra crianças, é só que são bem irritantes antes de se tornarem realmente pessoas civilizadas.
Selo meus lábios aos dela e acaricio seu rosto com a palma da mão, revelando o corte em seu rosto. Era evidente que passou bem longe das mãos de qualquer medibruxo. Meus lábios se franzem em uma linha fina.

-Aalyah, pelo amor de todos os Deuses, eu espero que você tenha um explicação plausível para estar com um corte desse tamanho na cara e ainda não ter sentado a sua bunda na cadeira de um consultório, porque como medibruxa eu sou uma ótima escritora e é o Mungus ou eu. E pode ter absoluta certeza de que eu vou ser infinitamente pior do que qualquer injeção que já tomou na sua vida!
Quando retiro o curativo improvisado, sou obrigada a respirar um pouco pra não fazer outro que combine. Estava bastante inchado e vermelho, com os pontos mais mal arrumados da história e com certeza a coisa mais limpa que tocou esse corte foi a bota que joguei na cara dela.
-Eu devia fazer mais um igual pra ver se consigo enfiar juízo pra dentro dessa cabeça por eles. - Retruco entre os dentes. - Preste bem atenção no que eu vou te dizer, mocinha. Nós vamos comer e teremos uma ótima noite enquanto eu ignoro esse trapo sujo em cima desse machucado e quando eu passar por aquela porta nós duas vamos ao Hospital, você vai se comportar feito uma mulher adulta com mais de 20 anos nas costas e deixar arrumarem essa bagunça que eu fiz na sua cara.  

"Está com fome?" Aalyah pergunta. -Macaco quer banana?- Respondo com um sorriso arreganhado e tom de voz irônico. Dou uma olhada no cardápio. -Acho que quero uma torta de mirtilo com banana e outro troço desse. - Finalizo a xícara de café que o homem tinha deixado. Deixo meu corpo pender para o seu lado e apoio a cabeça em seu ombro. -Cafona e clichê, mas seria mentira se dissesse que não senti falta disso. E comilona é a égua que lhe pariu, senhorita. - Dou-lhe a língua, esperando que escolha seu prato para chamar o garçom. Aalyah faz os pedidos e me aconchego em seu abraço outra vez. Suspiro, entrelaçando meus dedos aos dela. -Estou aqui pensando com meus botões, vamos precisar trocar a cama... Você é muito espaçosa pra dividirmos uma Queen, sabia disso?

Observo totalmente desconcertada o garçom nos parabenizar pelo casamento sem sequer saber como reagir. -Espero que o Leonard goste de cerimônias voodoo. - Comento com um misto de ironia e conformismo. -E rã é o que você vai virar já, já me difamando assim, bonitinha. Você arreganha essas pernas como se fosse parir e fica lá esparramada, com a boca aberta.
Quanto à minha irmã, paro para refletir um minuto antes de responder. Acho que para ser sincera, Corella sempre foi capaz de entender o que sentíamos. -Às vezes eu acho que Corella sabe mais de nós que nós mesmas. Até porque depois do episódio silencioso de ontem, é melhor perguntarmos quem não sabe. Se bem que essa é fácil. - Já posso imaginar o sorriso arreganhado que minha mãe vai abrir ao saber de tudo. Viajou para visitar minha tia Elena e devia voltar em alguns dias. -Sua sogra. Se a Corella não deu com a língua nos dentes, ela sequer sabe que você apareceu.

Observo Aalyah com o canto dos olhos e um sorriso malicioso e com ares de vitória me escapa. Respondo ao seu comentário com minha ironia habitual. -Aham, moça. Não pode realmente, da próxima vou te amordaçar pra casa toda não saber. - Se Aalyah achava que eu ia largar o osso assim tão fácil, não me conhece muito bem.
Sou obrigada a rir diante do desespero de Aalyah ao imaginar ter que encarar Helöise novamente. Minha mãe é totalmente apaixonada por Aalyah, ela poderia vender meus órgãos que seria dada como certa. -Com a mesma cara de pau que me apareceu naquele hotel, gracinha. Embora eu ache que nem será preciso. Ela te venera. Qualquer coisa a gente foge pra Las Vegas. - Brinco, sabendo que perderia no mínimo um pulmão se fizesse um casamento escondido de minha família.

-Olha, amor, você sabe que eu sou uma pessoa sincera, então segura essa: você foi o escândalo vivo e encarnado. Não que eu possa falar muito. -Separo os mirtilos e as bananas da torta enquanto Aalyah fala, comendo-os separadamente. Um senhor da mesa ao lado parece especialmente interessado nos meus hábitos alimentares. -Quer pagar a conta? Eu peço agora pra você. - Retruco, ignorando o olhar de Aahlyah. -Quanto a minha mãe e Corella, digamos que a Cor já sabe de basicamente tudo e na verdade eu acho que de nós três ela era a que estava mais "de boa" com você desde o começo. E minha mãe não vai ser nada difícil, mesmo depois de tudo ela sempre falou muito bem de você e todo o bláblábla que você pode imaginar. - Dou um tapa na mão de Aalyah quando ela tenta pegar um pedaço da torta, olhando de cara feia. -Para de beliscar minha torta, bonitinha. Pede uma pra você ou vai fazer o jantar quando a gente voltar. - Engasgo ao ouvir a história de Maliki, caindo na gargalhada em seguida. - Vou ter que apelidá-lo de cunhadinho assassino depois que ele matar o próprio pai. 

-Meu bem, relaxa, ok? Sensações foram feitas para serem experimentadas, em silêncio ou não. Agora, se não gostou a conversa é diferente, mas não é o que parecia. E deixemos claro que eu não te manipulei, você estava por livre e espontânea vontade naquela cama, senhorita. - Tomo seus lábios em um beijo breve.  -E eu deixo o velhinho em paz, desde que ele tire esses olhos cheios de rugas daqui. - Retruco, deixando escapar uma risada debochada enquanto Aalyah me "protegia do frio". Algumas coisas nunca mudam, é fato.  -Eu conheço bem esse seu ciúmes velado viu, bonitinha? - Mantenho o cardigã fechado, embora minha alma implore para que eu o abra só para pirraçar. Estava realmente frio. Aproveito a deixa para pedir mais dois pedaços da torta e um expresso.    -Amor, vamos começar pelo ponto em que o nome do seu irmão é Nial. Mais gay do que isso fica bem difícil. Quanto ao caso dos amigos e todo o resto, não acho que vá levar tempo pra essa história ser esclarecida, então, vamos não esquentar com isso. - Envolvo meus braços em volta de Aalyah, mordendo seus lábios de leve. - Se você se comportar, quem sabe... - Lhe dou uma piscadela antes de me sentar normalmente. O garçom deixa o pedido na mesa e sorvo um longo gole do café, sentindo minha nuca se arrepiar em agradecimento pela bebida quente. -Não acho uma boa ideia nenhuma de nós morando afastadas uma das outras agora. Quanto mais próximas, mais fortes somos e menores ficam as chances de sermos manipuladas e esse tipo de coisa. - Como um pedaço da torta e sorvo outro gole de café antes de me concentrar em arrumar a gola da camisa de Aalyah. -Maas, eu passei a tarde pensando em alugar algum lugar onde nós duas possamos ter privacidade quando a gente quiser. A gente pode procurar um apartamento pra sempre que quisermos ficar a sós ou fugir da agitação lá de casa. 

-Aham, doente né... Sei... Eu vou bem ali pegar um óleo de peroba pra passar nessa sua cara de pau e já venho, viu? - Dou beliscão de leve na barriga de Aalyah. Foi inevitável não rir da crise de risos que se seguiu. Muito me espanta que ela nunca tenha parado para observar tal fato.  -Aalyah, daqui a pouco te levam pra um manicômio, respira. 
-Acho que posso merecer isso.-Sorrio enquanto me afasto um pouco.  -Veremos.- Tento me lembrar de que apartamento Aalyah estava falando mas levo muito mais tempo do que seria aceitável. Não tinha sido o meu favorito e era um pouco grande para quem não vai morar efetivamente nele, mas não vou mentir: aquela banheira era um sonho. Era a poucos quilômetros da casa da família, a vizinhança era amigável e consideravelmente discreta. Além do mais, o fato de ser grande possibilita que levemos Barney para lá. Barney gosta de companhia constante, mas Shafira correndo atrás dele como gato atrás de rato estava deixando o pobrezinho a beira de um ataque de nervos. - Não é má ideia, sabia? Eu posso mandar uma mensagem ao proprietário e descobrir.  - Desisto de proteger minha torta das garras de Aalyah e passo o segundo prato pra ela. - Me espanta que só tenha percebido isso agora. Se bem que trabalhando naquela sede, difícil é sentir frio... Nós podemos ir amanhã, saímos cedo, resolvemos a questão do apartamento, almoçamos fora e fazemos suas compras. Já aproveitamos pra emendar direto pra biblioteca, como deveríamos ter feito hoje. Pretendo voltar daqui a duas semanas, no máximo. 

Arqueio a sobrancelha em resposta ao comentário de Aalyah. Reconheço ter sido bastante persistente na história do doce, mas Aalyah sabe ser ainda mais rancorosa do que eu. Coloco o prato outra vez na frente dela. - Eu te dei, reclamona. - Aceito o chantili com um sorriso. Era capaz de comer uma tigela inteira de chantili sem sequer pestanejar.  -Tenho que concordar. A gente aproveita pra levar o Barney, a catarrenta vai deixar o pobrezinho maluco não demora. Ele vai desfrutar desse sossego tanto quanto nós duas. -Brinco, roubando um beijo rápido. -Meu amor, ali deve ser ótimo no inverno, mas não imagino como pode ser minimamente possível passar um verão ali dentro. É calor de incubadora, é dragão... Mas a gente resolve isso logo amanhã cedo ou você vai ficar acabada de frio em pouco tempo. - Penso por alguns segundos no que fazer primeiro. - A gente sai cedo, então, fecha logo o apartamento se estiver disponível. Se não estiver, vamos direto para a biblioteca. Mas não acho que vamos passar muito tempo por lá, afinal, quais são as chances de uma biblioteca não-local falar sobre isso? - Limpo o creme dos lábios de Aalyah com os dedos. - Eu sinceramente não te quero envolvida nessa, Aalyah. Pra mim já basta você estar até o pescoço em uma confusão da qual sequer tem culpa. É perigoso e ninguém sequer sabe até onde essa história vai. Eu prefiro que fique aqui, ajude Corella e minha mãe. - A tentativa foi válida, mas não fui capaz de evitar o monólogo que se seguiu. Não tinha a menor chance de que ela ficasse e de um certo modo eu já sabia disso. Aalyah é ativa e protetora demais pra simplesmente se conformar com um não. - Okay, você venceu, você vai, mas vai ficar onde meus olhos possam ver. - Deixo escapar um sorriso bobo. De um certo modo, sentia, desesperadamente, falta disso tudo. A voz, o toque, a atenção e a proteção de Aalyah eram meu porto seguro.