— but I scream too loud if I speak my mind;

Todos os Hughes sabiam que eu não era uma pessoa matutina, daquelas que acordam de bom humor e cumprimentam a todos em seu caminho com um belo sorriso no rosto. Diabos, eu não era dessa forma nem quando estava em meu melhor momento, o que dirá após acordar. Então, enquanto caminhava pelas ruas apinhadas de gente em Paris, os pensamentos duvidosos começaram a surgir. Por que eu havia marcado com Safira naquele horário? Porque sou um idiota, obviamente.

Minhas mãos encontravam-se fundas nos bolsos dianteiros da calça jeans de coloração mais clara. Apesar de sangue puro, eu apreciava a versatilidade das roupas trouxas e as infinitas possibilidades de combinação que elas apresentavam. Suas cores eram vivas e seus tecidos eram confortáveis. Eu me sentia bem daquela forma. Meu ego crescia pouco a pouco cada vez que um pescoço feminino - mesmo trouxa - virava em minha direção ao passar. Era divertido chamar a atenção por causa de minha beleza física, pois elas não faziam a mínima ideia de quem eu realmente era e do que poderia fazer com cada um ali com o mínimo acenar de varinha. Relembrar o tamanho do meu poder pareceu diminuir um pouco a rabugice que estava instalada em minhas feições.

As brisas geladas de vento batiam de forma confortável movimentando meus cabelos e roupas. Quando cheguei ao estabelecimento combinado, a ponta de minhas orelhas estavam vermelhas por causa do clima frio, porém aquilo não me incomodava, muito pelo contrário. O clima era deveras agradável. O pequeno dispositivo de comunicação que me foi dado por Inara vibrou, me fazendo franzer o cenho. — Você é inconveniente. — Resmunguei, abrindo-o para ler a mensagem recebida. Estiquei o pescoço procurando a silhueta conhecida por entre os que ali estavam e sorri com o canto dos lábios ao identificá-la. Me aproximei vagarosamente por trás na ponta dos pés como um predador à espreita de sua presa e, quando já não havia mais distância entre nossos corpos, inclinei o rosto um pouco para frente aproximando os lábios de seu ouvido. — A lady desprevenida dessa forma? Que errado. — Sussurrei, tendo cautela para não ser ouvido por terceiros. Mesmo no mundo trouxa precisávamos ter cuidado para não nos expor.

Quando Safira girou nos calcanhares a primeira coisa que fez foi passar seus braços por meus ombros puxando-me para um abraço apertado, esse que não demorei a retribuir ao segurar em sua cintura.

Revirei os olhos com seu comentário sobre o abraço, o que me fez balançar a cabeça negativamente. Safira era demasiada apegada com seus familiares, o que obviamente incluía a mim, então acabava por demonstrar muito afeto. No geral, sentimentalismo demais acabava me incomodando, porém se tratando dela era fácil relevar esse fato. Afastei nossos corpos depois de alguns segundos, desvencilhando-me do abraço. — Você é uma graça, prima. — Comentei.

A mulher pareceu ficar impaciente por estarmos de pé do lado de fora do local, pois assim que terminamos de nos cumprimentar ela entrelaçou nossos braços e puxou meu corpo para acompanhá-la, logo me deixei ser guiado por ela para dentro do nada modesto café que eu havia escolhido. Já no interior, empurrei sua cadeira de forma cavalheiresca para que pudesse se acomodar melhor à mesa, após isso tomei meu lugar no assento que se encontrava de frente para o seu.

— Como você tem passado? — Perguntei cordialmente. Precisava começar as coisas com calma, afinal Safira além de prima, também é Lady. Não seria sábio subestimá-la. Então, precisava começar as coisas sem pressa. Tínhamos o restante do dia a frente.

Nossa conversa foi interrompida pela chegada de um dos garçons. Ele estendeu dois cardápios, porém eu os neguei com um rápido aceno de mão. — Bonjour, pourriez-vous nous donner deux cappuccinos, s'il vous plaît? — Pedi em um sotaque francês perfeito. Apesar de que, para mim, estivesse um pouco enferrujado. Fazia algum tempo desde minha última viagem à Paris. — Et aussi deux scones aux bleuets. Avec la crème à part. Merci. — Após a saída do homem, tornei a dirigir minha atenção para a figura que me observava atentamente com um sorriso malicioso brincando nos lábios. — Espero que não se importe, além dos cappuccinos também pedi dois scones de blueberry. Você vai adorar. Eles são deliciosos. — Sorri, piscando em sua direção.