[RP FECHADA] Passeio noturno

O desespero atingiu o estômago de Alice no meio da madrugada. Estava tão concentrada nas aulas que vinha tendo, as tarefas e todo o resto que se esquecera completamente que dia era, ou melhor, fora. Havia sido o aniversário de sua mãe e como de costume ela nunca deixava de enviar a cesta dos doces favoritos da mulher que atualmente se encontrava internada no St. Mungus. Jogou o lençol e o livro que estava lendo para o lado e se pôs de pé rapidamente para vasculhar o baú aos pés da cama. Por sorte a cesta estava montada há três dias com um pergaminho enrolado no Feijãozinho de Todos os Sabores, o favorito das duas que brincavam de adivinhar o sabor quando a ruiva era criança.

Ainda de pijama atravessou a sala comunal e passou pela abertura. O coração disparava a cada mínimo som que ouvia, com medo de ser apanhada por um monitor, professor ou o zelador. Andava com pressa e calma, olhando antes de virar em algum corredor. Parecia ter levado uma eternidade devido à pressa e nervosismo, mas conseguiu sair do castelo com sucesso, sendo açoitada pelo vendo que provocava arrepios. "Devia ter vestido a capa, burra." Todos ainda dormiam, exceto, ainda bem, pelas corujas. Abençoados sejam os animais noturnos.

— Lumus — Murmurou e vários olhos brilhantes refletiram a luz da varinha que se acendeu. Começou a procurar por uma coruja grande e diferente. Alyssa sempre se alegrava quando recebia corujas diferentes e espalhafatosas. Escolheu uma Coruja Orelhuda, certa de que a mãe se divertiria com ela e prendeu o pacote juntamente com a ala, quarto e andar de destino. Depois que o animal levantou voo permaneceu por alguns segundos vendo ele se perder no céu escuro.

Alice estava em outro mundo. Aliás, no mesmo, mas anos atrás, lembrando-se de como era a época em que ainda tinha pais. Um suspiro longo cortou os lábios da jovem e produziu uma fumaça branca na noite fria. Ainda não estava pronta para voltar para o dormitório, mas seus músculos começavam a chacoalhar e reclamar da baixa temperatura.

Sinceramente, a ruiva nunca esperaria por companhia às 3 da manhã no corujal, mas o destinho fez cruzar seu caminho seu quase assassino. Estava tão perdida em pensamentos e distraída que não notara a aproximação pelas costas. Vou lhe contar algo importante: o corujal é perigoso pois, primeiro, é alto; segundo, as corujas não tem um banheiro, seu banheiro é o chão. Sobressaltada com o súbito "buh" a garota se virou muito rápido, levantando a varinha instintivamente, mas no ato acabou escorregando nas titicas espalhadas pelo chão, lançando o corpo para trás. Em um borrão de cores se deu conta de que estava caindo pela janela que antes era o apoio. A sua vida não passa em câmera lenta como todos dizem, você apenas tem tempo de pensar "que jeito merda de morrer".

— AAAAAAAAAA — Gritou a plenos pulmões enquanto o vento jogava seu cabelos para todas as direções.

O coração da jovem pulava dando que parecia prestes a sair voando, apesar do fato da garota estar sendo arremessada pelos ares; mas isso é outra história. Nunca foi de rezar, mas já estava pedindo a todos os deuses que conhecia que a ajudassem nesse momento tão desesperador, quando percebeu que não estava mais sendo arrebatada pelo vento. De olhos fechados percebeu um calor morno emanando ao seu redor. "Eu morri?". Abriu os olhos ao ouvir a voz masculina e se encontrou cara a cara com seu quase assassino de olhos claros e risonho.

— Não acho que o Barão Sangrento tem um senso de humor tão vasto assim. — Respondeu grosseiramente, ficando carrancuda ao ver como ele se divertia. Dando uma boa olhada na situação reparou em como os corpos estavam próximos, causando a ruborização na bochecha de Alice que se desvencilhou do rapaz e abraçou o próprio corpo. — Você gosta tanto de fantasmas que planejava me tornar um? — Tremeu, levando-a a segurar o pijama mais perto do corpo.

A sonserina ainda o olhava desconfiada, mas afinal, porque alguém iria querer matá-la? Engoliu a raiva, mas continuou de olho no desconhecido ainda desgostosa pelos acontecimentos recentes. Analisando-o melhor descobriu que era lufano pelo texugo em sua capa, também reparou que era bonito, mas as aparências não faziam muita diferença para Alice; já conhecera muita gente bonita por fora e feia por dentro e vice-versa. Com a culpa pesando, provavelmente, o rapaz ofereceu sua capa, a qual a ruiva recusou com veemência deixando o orgulho falar mais alto, o que não durou muito. Ele foi varrido por uma lufada de ar gelado que arrepiou o corpo todo.

— Obrigada — Agradeceu relutante, enrolando o tecido ao redor do corpo. A teimosia lhe queimava a garganta, mas a sensação de calor era muito melhor e combinava com a gratidão. — Sou Alice. — Respondeu brevemente. Notou que Chuck sentia frio por culpa dela, e num breve momento de compaixão abriu os braços, abrindo também a capa. — Anda logo, antes que eu me arrependa. Mas não toque em mais do que deveria, porque vamos ter que esperar um pouco. Meu grito pode ter chamado a atenção de alguém. — Dito isso foi se sentar num banco de pedra aparentemente limpo.

A garota jogou a capa sobre ambos e puxou um dos lados sobre o corpo. Seus ombros se tocavam, deixando-a meio sem jeito, mas ignorou o sentimento. Recebeu o comentário sobre ser uma cobra com um sorriso. Sentia orgulho de sua casa e gostava que fosse reconhecida como uma sonserina, por mais que grande parte das pessoas desgostassem desta. Se aproximou lentamente do lufano e produziu um sibilo igual ao das cobras perto de seu ouvido. — Adoro texugos no café da manhã. — Murmurou, lambendo os lábios e arreganhando os dentes. — Cuidado, lufano... — Avisou e com um movimento rápido agarrou o pulso alheio ao mesmo tempo em que mordia o ar fazendo um estalo alto de mordida.

Soltou-o e voltou a se aconchegar na capa, puxando as pernas para o banco e as abraçando com um dos braços. Percebeu a movimentação alheia e viu-se abraçada pelo recém-conhecido, o que lhe fez levantar uma das sobrancelhas num olhar indagador. — Está se sentindo confortável aí? — Indagou zombateira.