Prefácio - A Profecia

Em 2023, a Divisão de Animais do Ministério da Magia foi pega desprevenida por uma doença contagiosa e cruel que acometia dragões de todas as idades. Sendo animais tão difíceis de se examinar, restavam aos magizoologistas tentar ajudar observando sintomas, que incluíam perda de apetite, descamação, escaras e agressividade. Sem conseguir qualquer diagnóstico rápido e, sendo esta uma doença sem qualquer precedente, os animais foram morrendo um a um até que finalmente caminharam em direção à extinção em 2025.

A MORTE DE OKA, O ÚLTIMO DRAGÃO PROTEGIDO PELO MINISTÉRIO, MARCA O FIM DE UMA ESPÉCIE.  

A comunidade mágica perde hoje, oficialmente, uma das maiores e mais belas criaturas mágicas que possuíamos. A devastação causada pela doença que os acometeu jamais poderá ser mensurada, tampouco é possível prever as consequências deste trágico acontecimento, não somente na área da Magizoologia, mas em toda a vida bruxa, no geral. [...]

A procura por couro, sangue, fígado, coração e chifre de dragão após decretada sua extinção foi às alturas, bem como o preço destes artigos. O aumento pode chegar a duzentos por cento, a depender da região, e estão já são considerados artigos raros. [...] A previsão é que, com o passar do tempo, se torne cada vez mais difícil produzir poções ou objetos mágicos que dependam destes produtos. [...]

Nesta tarde, a Ministra da Magia, Charlotte Stephenson, se reúne com o atual Primeiro Ministro Trouxa, Benjamin Butcher, para uma reunião, visando encontrar, juntos, uma explicação não-mágica para o surto de reprodução das espécies de mamíferos que, antes, serviam de alimentos para os dragões.

Livres de seu maior predador, cabras, carneiros, porcos selvagens e algumas espécies marinhas estão se reproduzindo cada vez mais rápido no ambiente selvagem e o desequilíbrio ambiental tem causado grande comoção entre os trouxas.  [...]

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Posteriormente, através das pesquisas feitas a partir de amostras retiradas de Oka, o último dragão, constataram tardiamente a presença de uma bactéria que atacava os órgãos vitais até alcançar o coração, pondo fim à vida das criaturas.

A extinção de tais criaturas abalou não só o mundo mágico, mas afetou toda a estrutura do meio ambiente trouxa, que precisou lidar com superpopulações de diversos mamíferos enquanto bruxos e bruxas brigavam pelos últimos vestígios de mágica que um dragão poderia fornecer.  Boticários tentavam a todo custo encontrar ingredientes alternativos para poções que levassem chifres ou  qualquer outra parte do animal na composição e o cenário era caótico.

Embora toda a sua beleza e magia fizessem falta para os bruxos, a comoção causada pela extinção da espécie mais perigosa do mundo mágico já não fazia parte do cotidiano dos bruxos, que, aos poucos, aprendiam a viver sem eles, mesmo que com danos irreparáveis aos progressos da magia.

Contudo, resistia, escondida na Floresta de Ballyboley, protegida por inúmeros feitiços e, principalmente, pelo temor dos moradores locais, que acreditavam piamente na lenda de que o local era palco de eventos sobrenaturais, uma reserva de dragões rica e totalmente isolada do mundo bruxo. Nunca se soube como o Ministério jamais foi capaz de rastrear o local ou sua magia. Tudo o que Edwin Graham, responsável pelo local, assegurava, era que seus exemplares de dragão conseguiram sobreviver até aquele presente ano, misteriosamente, sendo acometidos pela doença tardiamente.

Devastado e fortemente interessado em trazer de volta as criaturas que tanto amava, o homem recolheu todos os ovos que existiam na reserva, totalizando mais de cento e cinquenta unidades, e rumou para a Inglaterra em um navio encantado em 2025. Ofereceu-os a ministra Charlotte em troca de garantia de liberdade e proteção sob as terras de sua jurisdição.

A notícia foi espalhada aos quatro ventos pela mídia e a população estava em festa, mas infelizmente era preciso encontrar uma maneira de evitar que os filhotes fossem contaminados pela mesma bactéria que matou seus pais e este era um trabalho que, até então, só a evolução tinha se provado eficaz para criaturas mágicas.

E foi nesse cenário que se destacou Neptuna Leverseth, que prometia ser capaz, não só de encontrar uma maneira de proteger esses animais, mas de curá-los completamente. Aliada à Ministra, que demonstrava grande interesse e confiança no potencial da mulher, investiu sua herança na construção do Centro de Pesquisas Thunderbird. Assim, foi responsável pelo desenvolvimento de diversas curas, dentre elas o total extermínio da draconem apicibus, a bactéria que devastou a população mundial de dragões.

Quando os ovos finalmente chocaram e os filhotes atingiram maturidade sexual suficiente, surgiu o interesse em reproduzi-los rapidamente para, assim, findar o perigo de uma real extinção e Neptuna se encarregou da tarefa, criando não somente espécies puras, mas também reproduzindo os raros híbridos que existiam anteriormente. As várias mesclas dos genes, o excesso de manuseio e a presença humana amigável e constante os tornaram mais domesticáveis, porém, não menos letais.

No entanto, boatos de que as criaturas estavam sendo geneticamente modificadas para construir animais mais fortes se espalharam rapidamente e chamaram a atenção das Forças das Trevas. Em um ataque exibicionista e sangrento, mais de cinquenta ovos foram roubados de Thunderbird, anunciando a volta dos comensais e levantando dúvidas perigosas.

Charlotte, que estava no local para algumas formalidades, acabou gravemente ferida e antes de partir fez uma última profecia:

O terror se instaurou na comunidade bruxa e o Ministério precisou tomar atitudes drásticas para se preparar contra a ameaça que estava por vir. Informados de que os comensais pretendiam criar um exército de dragões, o governo se associou oficialmente ao Centro de Pesquisas Thunderbird, desmembrando, no ato, o antigo Departamento de Pesquisa e Limitação de Dragões e criou a Sede de Domadores e Cavaleiros de Dragões.

Assim, o centro de pesquisas ficou responsável pelo desenvolvimento de dragões híbridos domesticáveis ainda mais fortes e letais. Os domadores se encarregaram da difícil missão de treiná-los para uma possível batalha, preparando-os para serem montados pelos cavaleiros, que recebiam intensa e incessante instrução para o embate.

A tensão no mundo bruxo era palpável a cada dia que se passava. Os Comensais faziam constantes demonstrações de poder, deixando claro através de ataques e mensageiros que  estavam, a cada dia, fortalecendo e aumentando seu exército. Ninguém sabia ao certo em que número estavam ou quando iriam atacar, mas era certo que não demoraria.