[RP] Admirável chip novo

Kaltain — apenas Kal para os mais próximos — tinha várias características marcantes e, com toda certeza, uma delas era seu olhar — comparados com olhos de uma tigresa, ágil, afiados e capazes de fazer retroceder aquele que não prezava por sua vida, eram fortes — e suas madeixas, tão curtas quanto o seu pavio.

"Sim, é, tá bom, certo" fora o que mais dissera nesse dia nublado. Era como se sentisse que algo ia acontecer e Kaltain odiava essas sensações, mesmo que não pudesse evitar. Seu sexto sentido era tão apurado, que quando mais nova achavam que possuia clarividência. Besteira, era apenas uma garota que tinha muita sorte, ou nem tanta assim na opinião da mesma. Talvez, teria alguma coisa relacionado com as loucas bruxas de Eirlithräd, especulações.

Suas roupas, magicamente encantadas para o frio, estavam mais apertadas ao corpo da garota enquanto a mesma seguia para a Casa dos Gritos sem se preocupar em ser seguida. Tinha largado suas companheiras em Hogsmeade, na loja de doces.

— Que grandíssima merda. — Falou, com um sotaque búlgaro ainda forte em sua voz. Seus olhos observavam criticamente a casa. 'Vire agora mesmo Kaltain, finja que nunca teve essa ideia de merda' era isso que sua mente falava — gritava, na verdade — como sempre, ignorou-a. Não iria fugir com o rabo entre as pernas. Suas mãos empurraram a porta da casa sem se importar com os sons que fazia.

Pela as informações que tinha juntado — vulgo, falar com Mavis para mais informações — a Casa dos Gritos tinha esse nome por fantasmas, ou algo assim, que os moradores da vila ouviam.

'Bem, a única assombrações para eles, nesse  momento, dentro da casa, é a minha queridíssima mãe dando uma aparição por aqui.' A intercambista deu um sorrisinho irônico enquanto sua os degraus da escada.

— Então, vamos tomar um chá da tarde? — uma sobrancelha arqueou enquanto a mesma equilibrava-se na parede fedendo a mofo.

Naquele exato momento de silêncio, os olhos e a atenção de Kaltain achavam mais interessante o piso de madeira desgastado, com estranhas marcas de garras. Como se um animal de porte grande tivesse sido arrastado as forças dali. Era tão...estranho? Sem nem perceber, havia fechado a porta com sua avaração, que as vezes, saia do controle.

Assustou-se por um segundo, saindo de onde estava e sentando-se em uma cadeira velha que ficava em frente ao sofá. Não podia dizer que estava animada em estar conversando com sua mãe, assim como não estava animada com dias nublados.

Estreitou os olhos, perguntado-se mentalmente o que estava acontecendo ali. — Por incrível que pareça, muito bem, obrigado.  Mas...roubando doces de criancinhas novamente, momi? — As vezes, só as vezes, Kal não conseguia segurar sua língua. Eram tendências suicidas, por assim dizer, e brincar com os nervos de Lilith era uma dessas tendências.

— Ou, MELHOR! Envenenando maças? — sua risada envolveu o local silencioso, dando uma estranha "vida" para casa.

       Mesmo Kaltain sendo provocativa, sem medo de sua mãe fazer qualquer coisa contra a mesma, era um tanto perceptível que Lilith gostava dela. Endireitou a sua postura impassível e exibindo um mínimo sorriso de lado em sua face, na maioria das vezes sem sentimentos, Lilith abriu a boca para falar, mas, antes que quaisqueres sons fossem ouvidos de sua boca, dois jovens, de aproximadamente 11 anos entraram abruptamente pela porta pela qual Kaltain havia passado minutos antes.

       O mais alto, mas não mais velho, estava segurando o mais baixo pelo casaco, e ria escandalosamente alto, o que resultou em uma cara de desgosto vinda da parte de Lilith. Porém, assim que o garoto percebeu a presença de ambas ali, parou de rir, e somente com um sorriso simpático se desculpou por ter entrado assim, e justificou que estava apenas brincando com o amigo que estava com medo da casa. Claro, o outro contrariou até o fim a teoria do mais alto.

       Uma pena, realmente, mas aquilo não interessava nem um pouco a Lilith. Estava com uma cara de tédio, e até mesmo permitiu-se revirar seus olhos ao fato de ter sido interrompida. O garoto mais baixo, ao olhar para a mais velha, ficou congelado, e então Lilith deu-lhe um sorriso maligno, enquanto em um piscar de olhos a loira já o imaginava se contorcendo no chão, gritando e esperneando da dor mental, vinda da parte de Lilith.

       Poucos segundos depois, não só o mais baixo, como também o mais alto estavam espumando pela boca, contorcendo-se como os pequenos vermes que eram. A loira, mesmo ciente de tudo que estava acontecendo, continuou com o sorriso, mas também com a expressão de tédio presente no seu semblante.

       Depois de mais alguns segundos, os corpos dos dois meninos estavam no chão, petrificados com uma expressão de puro horror no rosto. Seus olhos estavam queimados, suas gargantas tão secas e murchas que parecia que a cabeça de ambos não era segurada por nada. Seus braços tortos no chão com os músculos tencionados de uma coloração cinza. Essa visou gerou um aumento no sorriso de Lilith, fazendo seus olhos, agora vermelhos por ter usado sua habilidade de tortura, voltarem lentamente ao azul, passando por um tom roxo e depois azul mar até voltarem a ser os gélidos olhos inexpressivos de Lilith.

"Continuando, como esta Hogwarts? Fez alguma amizade importante?" — Perguntou, voltando-se para sua filha, enquanto pegava uma garrafa de Vodka que estava abaixo de suas pernas cruzadas, próxima ao sofá. Deu um gole na famosa bebida russa e então sorriu, esperando a filha lhe responder.

Acontecera tão rápido, que Kaltain ficou tonta, sendo aparada — e não deixando demonstrar — pela a cadeira em que estava. Uma pontada foi tão grande na cabeça da herdeira da Lady, que a mesma se curvou como se aquilo ajudasse a passar.

Não era ela que estava sendo submetida a tortura e sim os dois garotos. Mas, era isso que sempre acontecia quando presenciava as atrocidades de sua Lilith, sua mãe. Como aqueles garotos foram parar ali? E, justo naquele exato momento?

Não conseguia respirar, não conseguia impedir aquela cena que estava acontecendo bem na sua frente, não conseguia desviar os olhos. Estavam vidrados. Seu coração parecia que ia sair do seu peito, enquanto a temperatura — que já estava baixa — caia mais ainda no local.

Só uma coisa poderia demonstrar que algo estava errado com Kaltain — que nessa hora, já tinha se endireitado na cadeira —, era seus olhos. Pareciam perdidos em tudo aquilo e apagados, como se tivessem sido tomados por uma sombra que cada dia se alastrava por toda a garota, disfarçados com muita facilidade por seu bom humor com todos.

Fechou seus olhos, apertando-os como se fosse uma salvação. Não era, irônico. Levantou-se, sem nem perceber. Andando, confrontando a cena que parecia estar demorando uma eternidade, mas nem havia começado direito.

A porta fechara sem nem sequer Kaltain mexer um músculo para isso. —  Abaffiato. — conjurou o feitiço baixo, como se fosse algo apenas para si. Assim como o que utilizara para porta, não precisou mover um músculo. Era uma avaradora. Mas ele cumpriria sua obrigação, nenhum daqueles gritos de horror seriam ouvidos por uma criatura sã fora da Casa dos Gritos.

Tinha acabado. Mas os gritos ainda ecoavam no subconsciente de Kaltain como uma lembrança, assim como todos os gritos que ouvira das torturas de Lilith. Levando pouco a pouco a garota a loucura, sem nem a mesma perceber.

Seus olhos passaram pelo os corpos, sem demorar muito. Utilizando novamente sua habilidade, um pano velho o bastante pela a aparência mas utilizável em um momento desse cobriu os corpos, como se aquilo fosse realmente uma confirmação: Mortos. Seu olhar recaiu sobre Lilith, a mulher mais velha nem sequer tinha sido abalada, era como se estivessem tomando um chá às 5 da tarde em um país maravilhoso.

— Hogwarts é maravilhosa, em toda sua glória. — Sua resposta foi vazia. — Mas não me arrependo de ter escolhido Durmstrang. — Mordiscou seu lábio inferior, como se aquilo a impedisse de gritar bem ali. Não conseguia parar de comparar aquela conversa como o do conto trouxa, só que macabro: Alice no País das Maravilhas. Ignorando a parte de amigos "importantes".

A energia do local estava sobrecarregada, que ficava pior ainda com o silêncio e o frio.

— Eles não fizeram por querer. — sua voz foi morrendo aos poucos, referindo-se ao terror de alguns minutos atrás.

       Lilith deu um simples sorriso, como se estivesse admirando uma boa pintura, ao olhar mais uma vez para o corpo de suas vitimas serem cobertos pela sua filha. Bebericou mais uma vez, direto da garrafa, alguns goles de vodka, enquanto descruzava suas pernas e se enclinava para frente no sofá, ouvindo a sua filha responder-lhe a sua pergunta.

"O que estava sentindo por eles, é empatia?" — Zombou a loira, dando um riso baixo, como se aquilo fosse um absurdo. "Fazendo ou não por querer, eles fizeram. E agora, pagaram por isso." — Falou, voltando a seriedade habitual, balançando os ombros como se aquilo não fosse nada. "Mas agora, meu bem, vamos assar uns marshmallows." — Riu Lilith, se levantando do sofá e arrumando seu sobretudo elegante, que cobria até seus joelhos e acenturava sua cintura, sobre seus ombros.

No momento seguinte, como um feitiço não-verbal, Lilith apontou suas varinhas para os corpos, os juntando no meio da sala, e então fazendo o feitiço "fogomaldito" consumir os corpos em chamas medianas, cuidando para não botar fogo na velha residência. Tirou um saco do doce de dentro de sua bolsa, em que continha algumas porções e espetou-os em um graveto, segurando-o sobre o fogo por alguns minutos e logo depois o levando a sua boca.

Fechou os olhos e fez uma expressão prazerosa ao sentir o gosto do doce, e então esticou o saco para sua filha, voltando a por alguns sobre o fogo.

       Lilith não conseguiu evitar a alta gargalhada que estava pendente na sua garganta. Ela achava mesmo que podia "dar um basta" e tentar dar um sermão de moral na Loira? Meio óbvio que não. Estava em desvantagem, e a loira não hesitaria nem um segundo em matar o próprio sangue.

       Dando um sorriso cínico, a Alemã virou-se para a filha, colocando um marshmallow em sua boca calmamente, enquanto a passos suaves porém firmes se aproximava dela. Jogou todo o resto do saco de marshmallows no fogo, logo virando-se para Kaltain novamente.

"Ouça-me bem." — Anunciou, em uma voz extremamente séria, com a postura ereta e um semblante maníaco tomava sua face. "Ou você está comigo, ou está contra mim, Kaltain. Você me conhece, sabe que eu não hesitaria em matar um traidor." — Falou, não tirando os olhos da filha durante todo o tempo em que falara com ela.

       E então, novamente, como se nada estivesse acontecido e tudo estivesse as mil maravilhas, afastou-se dando um sorriso singelo. Segurou a mão da outra loira e a levou até fora da casa, alegremente. "Amor, não esquece de usar um casaco. Está frio." — Comentou, ainda sorrindo. Logo depois acariciou o cabelo da mais nova e fez o fogo-maldito fazer os corpos se reduzirem a cinzas, e logo depois limpou devidamente o local.

       Antes de ir embora, a loira olhou uma ultima vez para Kaltain, piscando um olho. E então, no momento seguinte, uma fumaça negra cobriu o corpo de Lilith, a fazendo voar até os céus e desaparecer, deixando somente uma risada macabra dos clássicos filmes de terror do Coringa para trás.

"Why so sad? Smile, before you dye."