Um último vislumbre do espelho fez um sorriso brotar nos lábios do jovem Furtwängler. Charlie – como era chamado pelo mais íntimos – estava satisfeito com sua aparência, as roupas negras contrastavam com a pele alva e os olhos claros. Enfiou a toca na cabeça e partiu porta a fora. - Estou indo, mãe! - Gritou antes de sair pela porta da frente da casa onde morava com a família, não sabia dizer com certeza, mas achava que a pessoa que havia lhe respondido era Morgana e não sua mãe. Deu de ombros e encontrou o pequeno elfo – que o levaria até Hogsmeade – entre os arbustos cobertos de neve no jardim. - Leve-me até a Zonko’s - Ordenou com um sorriso brincando nos lábios, assim que a pele quente de Charles encontrou a pele fria e grossa do elfo, o jovem bruxo sentiu um puxão no umbigo e logo depois estava perto da loja que desejava.

Após ver o elfo sumir com um estalar, o garoto arrumou suas roupas e caminhou em direção a loja. Pode ver de longe os cabelos cinzas, quase brancos, da melhor amiga e sorriu com o pensamento de vê-la. Alice era uma garota incrível, diferente e uma ótima pessoa para Charles. Distraída. ”como sempre, no mundo da lua” pensou Furtwängler. Nos lábios o garoto trazia um de seus melhores sorrisos, permitindo-se brincar com a jovem lufana. Aproximou por trás, silencioso, e agarrou a cintura de Alice, coberta por inúmeras roupas de inverno, a prendeu com força contra o próprio corpo e aproximou-se de seu ouvido. - Você parece um bolinho com esse tanto de roupa! - A risada saiu rouca, Charles virou a garota com facilidade e a manteve de frente para ele. Levou as mãos, que antes estavam da cintura da jovem, para o topo de seu cabeça. - Você diminuiu, Alice! Você deve crescer, sabia?! - Falou dramático enquanto segurava o rosto da jovem entre as mãos. Charles sorriu, um belo e genuíno sorriso Furtwängler.

O jovem bruxo segurava o lábio inferior com os dentes, evitando um belo sorriso sacana. - Acho melhor eu ir até o seu nível, senhorita estranha, com o seu belo equilíbrio é capaz de cair. - Charles observou o sorriso simples de Alice. Os olhos claros dela brilhavam, na verdade, eles sempre estavam brilhando. Mesmo que tudo parecesse escuro e sombrio, Alice, conseguia ver algo positivo e guiar a história para uma luz, menor que ela fosse, ela sempre conseguia. Charlie enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta, arrumou sua postura e umedeceu os lábios. Um brilho maroto brincou em seus olhos claros que brigavam internamente com os da colega.

- Sabe, você é muito curiosa... E, as vezes, isso se torna chato. - Falou enquanto remexia a fina camada de neve que estava no chão. O céu sobre suas cabeças era cinzento, provavelmente nevaria, mas não naquele momento. Charles olhou novamente para Alice, pomposamente estendeu o braço para ela, como um verdadeiro cavaleiro das histórias que ele e Alice achavam uma grande baboseira. Permitiu-se sorrir. - Achei que seria interessante fazer você escolher o seu presente de Natal. Algo diferente de todas aquelas coisas estranhas que você tem! - Falou docente, escondendo, ou tentando, a ironia em sua voz. Alice por sua vez sabia as verdades sobre Charles. O menino deu uma piscadela para a jovem pálida e esperou que ela aceitasse seu convite.

Charles deu de ombros para a defesa de Alice, ele, na verdade, achava fascinante todas aquelas coleções da lufana. Desde que conhecerá a garota tentou, em vão, construir coleção de alguma coisa, mas nada vingou então desistiu e precisou atormentar e admirar tudo Alice conseguia guardar com cuidado. Entrou na loja com a garota ao seu lado, os olhos do jovem brilharam, Zonko’s sempre fora uma de suas lojas preferidas, tudo ali era perfeito e encantador. Antes que um filete de saliva escorrega-se da boca de Charles, sua atenção foi chamada por Alice e sua ironia. O garoto deu pequenas batidinhas na mão da jovem pálida. - Oh, doce Alice, não use de ironia. Ela não cai bem em alguém tão delicada como você! - A voz de Charles era carregada de um falso sentimentalismo, ela soltou uma risada rouca e olhou para os olhos brilhantes da garota. - Eu adoro a Zonko’s, acho as coisas daqui muito normais, assim como você acha aquelas suas coleções. - Brincou o garoto.

Sem ao menos perceber Alice soltou-se do braço de Charles e perambulou pelos corredores da loja, observando as coisas com atenção. Colocou as mãos nos bolsos da jaqueta novamente, nos lábios um sorriso maroto brincava, observar a amiga tão perdida entre as coisas da Zonko’s encheu Charles de uma graça incrível. O garoto removeu a touca da cabeça e a guardou na jaqueta, enquanto arrumava os fios castanhos ouviu Alice lhe falar uma pergunta. Sorriu de canto. Agilmente pegou uma caixa colorida da prateleira e sorriu para a amiga. - Que tal Minhocas de Apito? Acho que são a sua cara! - O sorriso que mantinha no rosto era incrível, Charles estava realmente feliz. Mesmo que o encontro com Alice fosse só para matar a saudade, ele queria comprar uma coisa diferente para ela e nada melhor que alguma brincadeira da Zonko’s. Ele possuía um presente reserva, um livro enorme sobre animais mágicos que, com toda certeza do mundo, Alice adoraria.  O livro seria entregue a ela, mas não agora.

Balançou-se sobre os pés e piscou para a amiga. Caminhou mais um pouco a frente e pegou uma caixa de Pó de Arroto. - Eu também adoraria dar-te  isso aqui! - Falou enquanto sacudia a caixa na frente da menina. Ele sabia que Alice estava incomodada, mesmo que Charles sempre presenteasse a menina ela não lidava bem com isso, ao contrário dele que fazia listas e listas de presentes de natal, aniversário, dias das crianças, das bruxas e até mesmo que dias comum. Todas as listas possuíam os desejos do garoto e Alice ignorava tudo com muito charme, no final ele acabava ganhando meias ou então um presente-indireta.

A feição de desdenho na face do jovem Furtwängler foi óbvia, se Alice não usasse ele mesmo usaria.  - Tipo uma bomba de bosta? - Havia graça no tom de voz do garoto, uma sobrancelha erguida interrogava Alice, mas ele não esperava nenhuma resposta. A garota alçou as pequenas mãos no pulso de Charles e girou sobre os calcanhares, parecia determinada. O garoto possuía uma feição de dúvida no rosto, que logo foi transformada em reprovação quando viu os chapéus que Alice achava tão interessante. - Ele... - Charles não pode terminar sua frase, logo a garota colocou o chapéu sobre os cabelos bem arrumados do lufano. - Faz a cabeça desaparecer. -   Completou a frase que foi interrompida pela ação da loira, Charles bufou em desaprovação as risadas de Alice. Era incrível como uma pessoa tão pequena poderia fazer Charles ficar daquela maneira, em seu interior o menino sorria junto com a amiga, mas não admitiria e nem daria o braço a torcer naquela situação. Cruzou os braços sobre o peito e observou a loira a sua frente.

Rápida como um felino, Alice, retirou o chapéu do garoto e colocou em sua própria cabeça. Feliz como uma criança no Natal, a menina parecia realmente realizada com aquele chapéu. Charles estava feliz de ter “achado” alguma coisa que ela gostasse. Sorriu e soltou uma controlada risada. - Você é um belo corpo sem cabeça, senhorita Adams! - Falou fazendo uma mesura para a jovem sem cabeça. Charles retirou cuidadosamente o chapéu da cabeça de Alice, mas antes aproveitou-se e tateou sem carinho algum o rosto da jovem, em uma brincadeira infantil de achar o chapéu. - Bem, você só vai querer um presente de natal? Quanta simplicidade, coleguinha! - Pronunciou enquanto girava o chapéu entre os dedos. - Eu levarei uma caixa de Minhocas de Apito! - Colocou o chapéu sob o braço e pegou uma das caixas coloridas da estante, sacudindo-a em frente a jovem baixinha.

O garoto lançou um olhar maroto para a caixa em sua mão e depois para Alice. - Acordar o dormitório inteiro da Lufa-Lufa seria uma boa ideia, não acha?! -   Um sorriso ingênuo brincou nos lábios finos de Furtwängler. Charles observou a cara duvidosa e reprovadora de Alice e constatou que ela ficava extremamente fofa daquela maneira. Bagunçou os cabelos lisos e loiros da menina enquanto ia para o caixa, mas óbvio que perdeu a companhia da amiga para qualquer outra coisa aleatória. Deixou Alice com suas reflexões e pagou as compras.

- Adoraria saber o que passa em sua cabeça... - Anunciou displicentemente, Charles, interrompendo os pensamentos da garota. - Mas só as vezes! - Completou com uma risada sacana. Charles entregou para Alice a sacola com o presente da garota. - Já está na nossa hora, senhorita Adams! - A voz carregava uma falsa preocupação, assim que a garota pegou a sacola das mãos de Charles, ele lhe ofereceu o braço e a jovem aceitou. Charles e Alice retiraram-se da loja conversando sobre amenidades. Saímos dali.