Área da Piscina

Anteriormente, quando pretendia dar os passos até a mulher recém-chegada no ambiente, a garota de cabelos coloridos se atropelou nas palavras dirigidas a mim e eu só pude ouvir algo sobre seu pai também ter sido um comensal nos tempos antigos. O nome dito, Aki Tykkyläinen, trouxe a tona uma lembrança de quando coloquei os pés pela primeira vez na sede dos comensais. Porém, fui refreado de me perder em pensamentos por Nikki que resolveu se aproximar mais do que o recomendado por qualquer pessoa em sã consciência de meu espaço pessoal e que, ainda por cima, encostou seus lábios em minha pele do rosto num beijo.

Sua atitude causou um estalo interno em meu corpo que reagiu por instinto. Quando me dei conta já estava com uma das mãos em seu pescoço enquanto a outra, que puxara a varinha em uma velocidade absurda, pressionava a mesma contra sua bochecha. — Qual o seu problema? — Vociferei, não me importando de ter interrompido a festa que acontecia com o ato. — Você poderia estar morta agora se eu não tivesse visto Aeryn com o braço ao redor de seus ombros. — Fechei a mão com violência por alguns segundos buscando impedir seu fluxo de oxigênio antes de soltá-la, empurrando a garota para trás. — Tudo certo por aqui, o show acabou. — Me virei para os familiares com um sorriso no rosto. — Ninguém saiu machucado, está tudo bem. — Pisquei para Matteo.

Algo que eu nunca admitiria em voz alta ou sequer aceitaria era o fato de que meu coração parecia se apertar em angústia cada vez que ficava frente a frente com Inara.

Crescemos tão juntos quanto dois irmãos poderiam ser. Ela, sendo a mais velha, cuidava de mim e ao mesmo tempo me jogava no chão, me trancava no armário e houve até mesmo um episódio em que minhas sobrancelhas ficaram completamente chamuscadas. Éramos inseparáveis. Como as coisas poderiam ter seguido aquele caminho depois de todos os momentos compartilhados? Como o destino conseguia ser tão sacana a ponto de nos colocar um em frente ao outro sendo que, no fundo de nossos conscientes, sabíamos que eventualmente estaríamos naquela posição mais uma vez, porém esta sendo a última delas? A ironia era grande demais para que eu pudesse absorvê-la.

Chacoalhei a cabeça de forma imperceptível para que os pensamentos fossem dispersados e foquei minha atenção completa na bela silhueta feminina que me olhava com a feição iluminada. — Eu sei que sentiu minha falta. Sei que sentiu muito. — Para terceiros aquela frase poderia soar errada, me fazer parecer presunçoso ou até mesmo egocêntrico. Mas eles não conheciam Inara como eu, tampouco a ligação que compartilhávamos. — Por mais que pareça horrível, eu gosto do meu pequeno casebre. É silencioso e a vista da floresta é bonita. — Contorci a face em uma careta contrariada. — Não são todos que ganham um salário do ministério para ter um belo apartamento no coração de Londres. — Levantei uma das sobrancelhas em sua direção depois de meu tom zombeteiro. Um salário insignificante, isso sim.

Sendo completamente honesto, eu sequer percebi alguma mudança ou proveito na feição da garota enquanto a ameaçava, até porque meus olhos estavam embebedados em violência e minha varinha pulsava em concordância por entre meus dedos, pedindo para ser usada. Mas não era o momento apropriado, não ali em frente ao ministro da magia e da chefe dos aurores, ainda que fossem familiares. Para tudo se existe um limite, e tenho certeza que o deles se acabava bem antes de chegar em assassinato.

A movimentação em minhas costas foi facilmente notada. A visão periférica que eu tanto trabalhava a todos os momentos, os sentidos que foram aguçados depois de muito treino vieram a calhar naquele presente instante. Porém, Aeryn tampouco parecia querer me surpreender com algum golpe. Ele estava sendo guiado pelo mais simples e puro ódio, motivado pela agressão que eu havia cometido contra sua pequena protegida. Na realidade, eu não considerava o que fizera como um ataque físico, afinal Nikki continuava intacta. Todos os seus membros ainda estava anexados ao seu corpo, nenhum pingo de sangue fora derramado no chão. Logo, sem agressão. Eu também não queria dar motivos para Matteo precisar refrear mais do que o normal a sua vontade de me arrastar para azkaban, então quanto mais me controlasse, melhor.

Aeryn, enfurecido, partiu com rapidez para dentro da mansão, mas empurrou Inara na piscina enquanto fazia seu trajeto. Seu gesto me surpreendeu de uma forma ruim. Ela não estava envolvida na confusão, apenas foi dano colateral do seu pequeno acesso de raiva. Meus punhos estavam fechados com força; um deles ainda ao redor da varinha. Ele tinha sorte, meu primo, pois a mulher que agora era auxiliada por Rehan a sair da água não havia se machucado no processo. Se algo acontecesse a ela, Matteo teria que lidar com uma confusão um pouco maior do que um meio vampiro e seu incontrolável desejo por menores de idade. — Respira, Brandon. — Fechei os olhos ao sussurrar e iniciei uma rápida contagem de um a dez mentalmente. Esse mesmo método já se provou muito eficaz para controlar minhas impulsividades em situações mais significantes do que essa, à vista disso fui pouco a pouco recobrando meus sensos e tornei a guardar a varinha no bolso da calça.

Matteo e Nikki estavam dentro da casa, provavelmente tentando remediar a situação com o Hughes que parecia se comportar como um adolescente enciumado. Inara agora conversava com Rehan, que a ajudava a se secar com algum feitiço. Isac parecia imperturbável com a situação, talvez até um pouco entretido.

Passei a mão nos cabelos que anteriormente foram afagados pela prima e suspirei, deixando os ombros caírem. — Ele teve sorte que bateu na porta e não em mim. — Comentei ao me aproximar de ambas as mulheres. — As coisas ficariam um pouco complicadas se isso tivesse acontecido. — Todos estavam bem cientes quanto minha inquestionável habilidade em duelos. Tomei a mão de minha irmã entre as minhas e a observei de cima a baixo para me assegurar, mais uma vez, de sua integridade física. — Você está bem? Tem certeza? — A preocupação em meu timbre era facilmente notada. Naquele momento não me importava em manter a postura como lord das trevas. Eu era apenas Brandon, o irmão mais novo, preocupado com Inara, minha irmã mais velha.

Inara confirmou que estava bem, o que me tranquilizou de forma considerável. Porém, um pouco da minha raiva ainda se mostrava presente pela forma que meus punhos continuavam cerrados. O clima pareceu se amenizar devagar pelo ambiente. A gritaria no interior da casa havia cessado e Matteo agora caminhava em nossa direção com roupas novas, o que me causou curiosidade. Talvez as coisas haviam saído do controle? Isac, Aeryn e Nikki continuavam desaparecidos, porém meu primo, o ministro, parecia tranquilo, então o que quer que houvesse acontecido estava resolvido, por agora.

A atenção de todos foi roubada por uma presença que pareceu iluminar o ambiente. Safira agora se postava no meio do lugar e trazia consigo um pequeno felino nos braços. Todos os presentes ali se aproximaram da loira mostrando em sua direção um sorriso genuíno. Permaneci onde estava, agora de braços cruzados e com uma expressão divertida no rosto. Esperava que a mulher aparecesse em algum momento, mas de fato vê-la ali era uma surpresa. Nosso encontros se resumiam em almoços e jantares ''de negócios'', logo poder desfrutar da sua companhia no meio de toda a família era revigorante.

Abraços foram trocados entre os primos, enquanto isso me aproximei da vasta mesa que possuía uma enorme diversidade de bebidas. Safira e eu nos encontramos alguns dias atrás em Paris, então a saudade, apesar de existir, era menor do que a de todos os outros, por esse motivo resolvi deixar os outros aproveitarem aquele primeiro momento com ela.

Peguei uma garrafa de champagne fechada de dentro do balde com gelo, refiz meus passos até a beira da piscina e sentei ali, esticando as pernas dentro da água. — Safi, quando terminar com esses presentes, vem dar um beijo no seu primo favorito. — Brinquei ao falar por cima do ombro, estirando a língua na direção dos outros Hughes em provocação. Após, balancei demoradamente a garrafa em minhas mãos e a abri, estourando a rolha ruidosamente e acompanhando seu trajeto com os olhos até a mesma ir parar no meio da água. — A minha saúde. — Fiz o brinde imaginário de forma baixa e séria. Eu realmente precisaria daquilo se as coisas fossem de acordo com o planejado. Sorvei a bebida em dois goles longos, suspirando em seguida. — Goût de Diamants. — Li o rótulo antes de tornar a beber. — Soa caro. — Constatei dando de ombros. Dinheiro sequer era uma preocupação na família, então aquele fato não fazia a mínima diferença.