[RP ABERTA] Irmãos

O vento gélido batia contra o rosto da jovem Liesel, fazendo com que ela se encolhesse dentro do casaco preto. Apesar de estarem no verão, as condições climáticas daquela tarde destoavam da estação. O sol havia sido abatido pelas nuvens acinzentadas, que se espalhavam por todo o céu. Enquanto caminhava, ao lado do irmão, não pode de deixar de notar a preocupação que transparecia no semblante do gêmeo mais novo, fazendo com que ela se sentisse levemente culpada. De fato, Liesel era mesmo, sabia que era boa em ser persuasiva, ainda mais quando se tratava de Kendrick, que por mais que tentasse resistir, no final das contas sempre acabava cedendo as vontades da irmã. Então, naquela manhã, ela utilizou de seu poder para convencer o gêmeo a ir ao beco diagonal e abandonar os treinos por algumas horas e, como esperado, tardou, porém não falhou, Kendrick havia aceitado.

– Não se preocupe, o papai não vai nem desconfiar que paramos de treinar por algumas horas – A garota mordiscou levemente o próprio lábio, cogitando se a ideia de ir embora não era melhor para que não os acontecesse o mesmo que o da última vez que foram pegos mentindo para o pai, porém, com um balançar de cabeça todo o pensamento se dispersou. Já estavam tão próximos da loja, só alguns passos de distância, que ir embora àquela altura com certeza já não adiantaria nada. E, se fossem pegos outra vez, no máximo teriam que treinar dobrado, ou mais do que isso, o que definitivamente ela não queria que acontecesse, porem também não queria perder a oportunidade que teve aquele ano de finalmente ficar um pouco no mundo de sua natureza, o bruxo. Só costumava frequentar aqueles locais quando precisava de materiais ou algo do tipo, pois o pai, apesar de também ser um bruxo, buscava manter os gêmeos alocados ao mundo trouxa o máximo possível – E, caso isso aconteça, podemos dizer que ficamos doentes – Liesel entrelaçou o braço no do irmão, puxando-o levemente, fazendo com que o garoto se aproximasse – Somos bons nisso, não é? – Lançou a ele uma piscadela, que evidenciava a cumplicidade de ambos. É claro, não costumavam fazer com frequência, apenas em casos que eles julgavam ser necessário.    

– EI! Não fale assim, sou a melhor irmã que você poderia ter – O tom brincalhão fora complementado por um sorriso que logo se espalhou sobre os lábios avermelhados da loira. É claro que era a melhor, afinal ela era a única irmã que Kendrick possuía.


O caminhar foi cessado assim que ambos adentraram a loja de animais. As orbes azuis percorreram rapidamente por toda a loja. Liesel já tinham em mente o animal que queria, mas gostava de analisar, para ver se não haveria uma opção melhor. – É aquele ali – Cutucou o braço do irmão, apontando na direção do amasso – Sim, outro. E não me questione, por favor – Caminhou na direção da gaiola aonde o animal se encontrava, aproximando-se dele. – Eu prometo que esse não vai fugir de mim – A promessa era para o irmão, porem o sorriso fora direcionado ao amasso. Liesel possuía um histórico um tanto peculiar com aquele tipo especifico de animal. A garota já havia tido cinco daqueles – um para cada ano desde que havia recebido a carta da escola de bruxaria - mas todos, curiosamente, acabavam fugindo dela, deixando-a sem entender o porquê. Não era má, nem descuidada, mas por algum motivo desconhecido por ela, na primeira oportunidade que tinham eles sempre partiam. Na concepção da garota aquilo era apenas uma questão de encontrar o animal certo, assim como acontecia no amor, se encontrar a pessoa certa, ela permanecera ao seu lado. Desta vez ela estava confiante, intuitiva de que aquele amasso era o seu animal gêmeo.  

– Sim, irei levar este. – Respondeu ao vendedor da loja, que logo saiu, levando a gaiola e o animal juntos. O olhar se voltou para o irmão, que ainda parecia estar preocupado com a possibilidade de serem descobertos – Nós já vamos. Se algo der errado eu resolvo, Ken... – Liesel sabia que mesmo que ela quisesse assumir a culpa, Kendrick jamais permitiria. Sempre foram assim um para o outro, ambos sempre se protegiam e, no final de tudo, a culpa sempre recaia sobre os dois.