[RP Fechada] They say that she's not easy

O lufano se encontrava ligeiramente irritado naquela manhã, sentir-se exausto pelo cronograma pesado de aulas que vinha enfrentando ultimamente, quando poderia estar por aí se divertido. Hogwarts era tão vasta que possuía inúmeras áreas inexploradas pelos alunos, Skłodowska, no entanto, desde que havia sido obrigado por sua rígida mãe a frequentar a escola britânica de magia. Tinha decidido que exploraria todo-o-terreno da mesma, escapando sempre entre os intervalos das aulas para conhecer algum ponto novo da região. Mas aquela manhã esse plano havia sido completamente estragado pela chuva que caía afora, inferno! Praguejou, caminhando a passos rápidos sob os corredores do castelo, ingressando entre inúmeros cômodos deste, sem nem mesmo cogitar o que eram ou ocupavam, terminando por chegar curiosamente a torre do relógio. Uma local bastante frequentado por ele no período noturno — numa quebra descarada de regras, é claro —, nele o jovem lufano costumava usufruir de seus cigarros sem o olhar julgador de terceiros, ou a ameaçar de ser descoberto por algum docente. Um pequeno suspiro escapou por entre os seus lábios trêmulos e ele enfiou a mão sob o bolso do casaco, buscando encontrar o seu maço de cigarros, de modo que pudesse aplacar um pouco a sua irritação com uso da nicotina. Porém, antes mesmo que pudesse alcança-lo, a sua atenção foi atraída para o terreno afora, onde os seus olhos vislumbraram uma cena um tanto curiosa.

Uma jovem de madeixas avermelhadas e pele pálida, rodopiava sob as pesadas gotículas de chuva, divertindo-se sob o relento com bastante energia. Ela saltava e girava, como uma bailarina, o que levou Ícelo a esquecer momentaneamente da nicotina e se focar na bela cena que se desenrolava sob o seu olhar curioso. Um sorriso até mesmo chegou a surgir sobre os seus lábios, com a simples visão da ruiva, uma reação bastante estranha para ele, já que nem mesmo a conhecia, entretanto, talvez fosse por causa de sua energia que se irradiava pelo ambiente e tornava tudo um pouco mais luminoso e divertido. Que garota estranha! Pensou, ainda com um sorriso prostrado sobre os lábios, sentindo uma vontade absurda de conhecê-la. Tentando também lembrar no processo se já a tinha visto em alguma de suas muitas aulas, contudo, sem sucesso nessa tarefa. E estava tão absorto em suas memórias que não percebeu que havia sido notado pela mesma, que agora o encarava com uma expressão muito diferente da usada sob a chuva, ela se mostrava carrancuda e com toda certeza, irritado por possuir um expectador em seu pequeno show. — Obviamente, você é uma artista e tanto, pena que o seu pequeno espetáculo irá premia-la com nada mais que um provável resfriado. — Respondeu a sua pergunta, deixando implícita a pequena dose de ironia que regava as suas palavras. Arqueando levemente uma sobrancelha posteriormente, à medida que analisava os seus traços faciais cheios de sardas. Sem deixar de admirar a beleza que ela possuía, embora não parecesse tão importante no momento.

— Você deveria sair da chuva, sabe… Talvez consiga impedir aquele resfriado. A menos que pretenda continuar com o show, então ficarei satisfeito em assisti-la. — Acrescentou, esboçando sutilmente um sorriso, enquanto descansava as mãos sob os bolsos do seu casaco e mantinha o olhar fixo sobre a ruiva. Era a primeira vez em meses na escola, que Ícelo trocava mais que um cumprimento com outro aluno, se é que todo aquele papo, poderia ser visto como uma interação. Uma vez que ele aparentemente só tinha invadido o espaço pessoal da garota — ironicamente num lugar público —, e respondido as palavras nada cordiais da mesma. Ícelo se manteve atento a ela.

O sorriso sútil permaneceu sobre os lábios finos do lufano, imaginando o quão, irritada aquela pequena ruiva poderia estar com a sua intromissão inesperada, isso ele podia observar através de sua expressão contida, como se o rugido de uma de leoa feroz estivesse preso sob a sua garganta, ele certamente queria trucida-lo, certo? Já que havia praticamente invadido um momento íntimo seu, mas, convenhamos, Ícelo não estava nem um pouco preocupado se tinha interferido no momento pessoal da mesma, estava num local público e ficou curioso com a visão divertida que surgiu sob os seus olhos astutos. Ninguém poderia culpa-lo por observar e apreciar o show, não é? Deu de ombros e se afastou alguns centímetros da porta, dando o espaço para a garota adentrar no espaço, à medida que também lhe dirigia algumas palavras no processo. Felizmente não muito grosseiras, embora ele tenha sorriso com o cinismo de quem havia escutado algumas. — Oh! Acho que vi sim! Confesso que até gostei da ruiva estranha rodopiando sob a chuva. — Respondeu as palavras da ruiva, cruzando os braços e virando-se para encara-la com uma expressão mista de cinismo e diversão. — Mas não se preocupe, não pretendo contar para ninguém sobre isso… — Acrescentou, evitando rir da pergunta da mesma, uma vez que ele realmente não tinha o que fazer naquele momento, entretanto, poderia facilmente agradecê-la, já que o seu pequeno espetáculo tinha o libertado momentaneamente do tédio e frustração. Todavia, resolveu ignorar essa última parte e focar na visão da garota, sentada sobre o chão a alguns metros. Livrando-se de suas meias encharcadas e as torcendo.

Ícelo é claro, não pôde deixar de observar as suas pernas, que mais lembravam um par de palmitos de tão finos e alvos, contendo-se para não rir da garota por causa daquele pensamento. Porém, também identificou logo em seguida que ela se encontrava trêmula sob aquele estado úmido. Não demorando muito para lhe ocorrer que talvez o resfriado mencionado por ele momentos atrás, não seria apenas o alerta num comentário vago, mas uma infeliz realidade. — Vai pegar um resfriado se não se aquecer. — Murmurou quase de forma automática, retirando o seu casaco e arremessando para ela. — Vista! — Acrescentou, na esperança que ele pudesse aquecê-la um pouco. Antes de ficar a sua atenção para o ponto que ela olhava tão fixamente; no caso, para um gafanhoto que se locomovia sobre a parede. Ícelo caminhou e se pôs a frente do gafanhoto, observando-a com o cenho franzido. — Desculpe por ter atrapalhado o seu momento, mas foi divertido ver você dançar na chuva, parecia muito feliz… — Comentou, esboçando uma expressão mais simpática e um sorriso cálido, diferente do cinismo e malícia de antes.

O lufano observou a colega aceitar o seu casaco, imaginando que apenas o mesmo não seria capaz de aplacar o frio que se abatia sob o corpo feminino, mas talvez fosse o suficiente para reduzi-lo. Evitando assim, que a ruiva viesse a contrair o tão falado resfriado, Ícelo rapidamente lhe deu as costas e sorriu com ironia sob o aviso dado por ela. Não sendo muito lerdo para chegar a conclusão de que ela estava se livrando de suas vestes úmidas. De qualquer forma, ele não tinha a intenção de espreita-la, embora tenha ficado tentado a fazê-lo somente para ir contra a sua vontade e ver que atitude ela tomaria, caso ele o fizesse. Todavia, evitou cutucar a “onça com vara curta” e se focou nas gotículas de água que despencavam do céu afora. Deveria dar somente uma espiadinha, não? Ela nem vai perceber… Suspirou, puxando as mangas longas de sua camisa para próximas das mãos, antes de fechar os olhos e menear a cabeça levemente. Lembrando-se que não queria olha-la, apenas estava tentando tornar aquilo um desafio, mas isso seria mesmo verdade? Contou de um a dez e se virou, por sorte ela já havia terminado de se despir e parecia se encontrar bem aquecida sobre o seu casaco. Claro que não era preciso nem mencionar, como ela parecia bem sob a veste de Ícelo. Um sorriso satisfeito surgiu sobre os lábios do lufano, à medida que ela tomava o maço de cigarros e o isqueiro, encontrados sob o bolso do seu casaco e arremessava em sua direção. — Sim, obrigado! — Assentiu, pegando ambos e retirando um cigarro, levando a seus lábios e acendendo. Refletindo o quanto eles estariam encrencados se algum membro do corpo docente ou funcionário comum os encontrassem naquela situação. A sonserina encharcada pela chuva e seminua sob o casaco masculino, assim como Ícelo fumando, seria o caos completo para ambos. Porém, Ícelo não parecia se importar e duvidava muito que ela também o fizesse.

Ícelo tragou o cigarro lentamente e expeliu a fumaça sob o ar, assistindo-a se espalhar pelo ambiente. Focando os seus orbes azulados novamente na ruiva, notando as sardas que se espalhavam por sua pele com bastante atenção, enquanto pensava sobre como elas eram diferentes e tornavam a jovem ainda mais bela. O Skłodowska sorriu e retribuiu a sua apresentação, qual ela tinha falado o seu nome “Alice”. — Prazer em conhecê-la, Alice, possui um belo nome! Sou Ícelo. — Disse, somente para bufar em seguida, quando ela o confundiu com Ícaro. Mais uma vez isso? Revirou os olhos, tragando o cigarro novamente, como se fosse um especialista nisso, sorte sua que sua mãe nem sonhava que ele andava fumando, caso contrário seria um cadáver no momento. — Entendo, Alice, mas só para constar o meu nome e Ícelo e não Ícaro. — Descartou o cigarro é estreitou os olhos para ela, pensando no quê ela queria dizer sobre “primeira chuva em muito tempo”, afinal, no Reino Unido, especialmente naquela parte da Escócia sempre chovia com frequência. Seria uma espécie de metáfora para uma parte pessoal de sua vida? Se perguntou, mordiscando o lábio inferior e deixando isso de lado. Percebendo que pelo menos, ela não se encontrava mais trêmula.

— Não chega a ser um crime, mas poderia terminar como um mal-estar. Você parecia muito trêmula quando saiu da chuva, está melhor agora, certo? — Questionou, se aproximando e se agachando outra vez a frente da mesma. — Você e de que casa e faz qual ano, não me lembro de ter te visto por aí em algum momento…

Uma sobrancelha foi levemente arqueada pelo lufano sob o comentário da ruiva, não havia entendido muito bem a sua piada ou seria uma cantada? Se fosse essa última, não tinha sido das mais brilhantes, mesmo que ele eventualmente tenha acabado por esboçar uma tímida gargalhada. Meneando a cabeça levemente para os lados, antes de sentar em sua companhia; seguindo o seu pequeno e silencioso convite, expressado somente pelo breve gesto de sua mão contra o solo, indicando o espaço a seu lado. Ícelo, inicialmente, estranhou que a menor parecia estar conversando sozinha, contudo, acabou ignorando isso, afinal, ele próprio tinha os seus momentos. Quando pensava algo tão distraidamente que lhe fugia pelos lábios, embora as suas palavras tenham despertado a atenção e curiosidade do lufano. — E, porque você estaria ficando maluca? — Questionou, interrompendo a conversa da jovem consigo mesma, à medida que tentava entender a sua resposta com relação a sua casa e ano. “Sonserinaterceiroano”, o que diabos isso queria dizer? Ué! Passou alguns ínfimos segundos para chegar a conclusão, que ela falava sobre ser uma sonserina e estar no terceiro ano.

Talvez ela fosse realmente maluca! Refletiu, escorando-se contra a parede e cruzando os braços. Imaginando que aquela Alice, estava mais para chapeleiro maluco, um sorriso irônico surgiu sobre os seus lábios e ele se virou para encara-la, respondendo a sua pergunta no processo. — Lufano, terceiro ano. — Balbuciou, esperando uma reação adversa da ruiva, uma vez que alguns membros da casa sonserina se mostravam em algumas ocasiões muito arrogantes e sarcásticos com membros de outras casas, especialmente com os da Lufa-Lufa. Ícelo só esperava que aquela bela garota não fosse esse tipo desnecessário de pessoa, apesar de que seu comportamento excêntrico, já davam indícios de que não possuía essa postura. Ela era visivelmente diferente, não tinha como ser uma pessoa assim. Tentou acreditar nisso, mantendo-se em silêncio por alguns instantes.

Decidindo atender o seu pedido, mesmo não sendo um indivíduo que acabaria com uma vida, por mínima que fosse. Tampouco, pensava que aquele pequeno inseto oferecia algum perigo a garota. Mas preferiu se livrar do mesmo, Ícelo, então, ergueu-se do chão e tomou o gafanhoto sob a mão, seguindo até a porta e o soltando fora do espaço. — Pronto! Tenho certeza que ele não voltará a lhe incomodar. — Comentou, observando o inseto seguir o seu próprio rumo sobre ambiente chuvoso, voltando posteriormente para onde a ruiva estava e sentando novamente a seu lado. — Você é um tanto excêntrica, não é? — Sorriu, cruzando os braços mais uma vez e cerrando os olhos, esperando não tê-la ofendido com tal comentário. Se bem que não tinha falado nenhuma mentira, ela realmente era um tanto peculiar e para muitas pessoas, certamente deveria ser vista até como uma figura estranha. Claro que ele não pensava dessa forma, ela parecia divertida e interessante, quando se colocava a refletir a respeito.