[RP FECHADA] Looking for Answers

Amanheci com ares péssimos. Não havia um único pedaço do meu corpo que não estivesse doendo depois de passar uma noite sentada na cadeira do Mungus. Aalyah precisa começar a cogitar uma terapia pra esse medo todo. Não é normal que uma pessoa quase sofra um ataque cardíaco pra levar meia dúzia de pontos.
Aalyah levou quase uma hora pra entrar no hospital e, apesar do atendimento rápido, ficamos até as 3h no hospital porque Aalyah simplesmente não parava de vomitar de nervoso depois que levou os pontos. Não bastasse todo o dramalhão, ainda fui chamada para uma "conversinha informal" com o medibruxo quando ela dormiu. Passei mais de uma hora ouvindo sobre o como eu estava errada, como era vitimista e abusiva e sobre como eles deveriam chamar as autoridades por se tratar de um caso de agressão. Não posso dizer que ele estava errado, então ainda estava me sentindo péssima, culpada e irritadiça. Empurro um comprimido e uma poção que enviaram pra dentro da boca de Aalyah assim que ela desliga o telefone e me levanto, jogando o edredom pro lado. Deixo ela pensar que é só meu mau-humor matinal e permaneço em silêncio, resumindo minhas respostas a sim ou não quando necessário.
Aproveito enquanto Aalyah se banha para revirar a bolsa em busca do celular. Trouxas usam meios bastante criativos pra se comunicar, se pensar bem. Envio uma mensagem para o dono do apartamento que tínhamos visto perguntando se ainda está disponível.
Levo cerca de meia hora pra sair do chuveiro e um bom tempo bônus tentando escolher o que vestir.  Comi tudo o que estava ao meu alcance durante o café tentando esquecer de alguma forma o que tinha acontecido. Aalyah não tinha ideia de qualquer coisa que pudesse ter acontecido depois que dormiu e não estava disposta a contar, mas sabia que ela estava me olhando de longe. Me mantive em silêncio até entrarmos no táxi, mas era impossível sustentá-lo em um carro fechado sem absolutamente nada para fazer além de esperar. Acabamos engatando em assuntos aleatórios e relaxei um pouco.
Desço do carro e me perco encarando a imensidão da universidade. A última vez que vi uma construção tão grandiosa, estava em Uagadou. O gramado era extenso e alguns estudantes estavam sentados com livros ou simplesmente conversando. Podia-se avistar a torre no centro da construção e por alguns segundos me senti uma estudante de novo (aí lembrei que estudantes não tem quase 30 anos). -Isso aqui é imenso, por Merlim!- Cruzamos o gramado até as instalações principais e Aalyah pede por informações na recepção. Somos cadastradas e recebemos um mapa. Deixei que ela o lesse e me guiasse, mas era impossível seguir aquela coisa até algum lugar. Acabo desistindo das tentativas de Aalyah e peço informações. Adentro na biblioteca com ares de espanto. -Isso é que eu chamo de biblioteca...- Gargalho ao ver a cara de deboche de Aalyah quando aos computadores, revirando os olhos. Mais uma vez, eramos opostas quanto ao tema. Enquanto Aalyah pouco se esquenta quanto à tecnologia trouxa, sou totalmente fascinada por ela. Não que eu saiba me virar com tudo, mas me divirto tentando entender seu funcionamento e normalmente consigo até me virar. -Podemos sim. Enquanto você apanha dessas estantes, vou ver o que consigo fuçar por ali. - Aponto o computador e ela me olha com ares de acusação. -Não me olhe como quem vê um herege! Eles são criativos!
Ela sai para vasculhar as estantes e me sento em frente ao aparelho, vasculhando aleatoriamente até descobrir o que fazer. Jogo a palavra "voodoo" no quadro de busca e encontro uma lista de livros. Anoto os nomes e as estantes em que estavam e vou atrás de Aalyah. Entrego-lhe metade de um papel com os nomes escritos sem lhe dar explicações e desapareço entre as estantes para pegar os que estavam na minha lista. 

Deixo Aalyah para trás, ignorando mais uma de suas mil caretas. Caminho até as prateleiras listadas procurando pelos títulos que constavam relação, abrindo-os nas páginas dos sumários para descobrir o que posso encontrar. Devo reconhecer que eles possuem mais informação sobre o voodoo do que eu imaginava, embora suas informações fossem incongruentes aqui ou ali. Por fim, nada que não soubesse.
Descartei cerca de quatro ou cinco livros que contavam a história do voodoo e suas vertentes, mais dois sobre lwas. Perdido em meio aos títulos sobre voodoo estava um livro antigo, de capa dura e áspera, com o título "ADINKRA: CONCEITOS E AFORISMOS". Abro o sumário rapidamente e avisto um capítulo exclusivo sobre cultura e tradições. Ponho-o sobre a mesa cogitando que possa ser útil.
Ao voltar os olhos para a estante vislumbro um cartapácio de exterior roxo, aveludado. Gravado na capa com letras prateadas o nome "Marie Laveau: a mulher que prolongou a vida". Meu coração gela e o pego de súbito.
Tamanho foi meu susto que não me dei ao trabalho de notar a aproximação de Aalyah. Deixo o livro cair ao me assustar e sinto o impacto contra o meu pé. Faço uma careta de dor, retrucando meia dúzia de palavrões entre os dentes. Ela se desculpa e faço sinal para ir adiante, ignorando a dor ao recolher o livro. Coloco-o com a capa para baixo na mesa, ocultando seu conteúdo. - Velharia. A coisa mais útil que achei foi aquele ali e ainda é uma chance remota. E você achou o baú de tesouro no fim do arco-íris pela alegria. - Aalyah começa a me mostrar trechos do livro até chegar em uma lista gigantesca de símbolos com seus respectivos significados.
Puxo-a para uma cadeira, me sentando ao seu lado e passo as páginas, reconhecendo um número impressionante de símbolos. -Aalyah, eu posso estar errada, mas aparentemente Adinkra é uma especie de dialeto. São símbolos usados para comunicar. E se seu pai se confundiu? Se a tribo é, na verdade, uma destas tribos que USA os sinais para se comunicar?- Paro de falar ao encontrar o símbolo das tatuagens.  "O rei vê tudo" dizia a legenda. - Rei? Que rei?

-Não acho que tenha relação com alguma deidade específica pois se assim fosse já não haveria uma de nós sobre a Terra. Restam bruxos e tribos. - Penso por alguns segundos em como o corpo foi encontrado e quase posso ouvir um estalo. - O padrão da execução remonta aos hábitos de um número relevante de tribos voodoo que praticam rituais com humanos, você não é muito ligada nos trouxas, mas provavelmente já ouviu falar das pessoas encontradas sem o coração. Geralmente são ritos que envolvem aquisição de poder, sucesso, dinheiro, vingança, coisas do tipo. Utilizam o mesmo processo para aniquilar inimigos em alguns vilarejos. Acho que podemos começar por aí. - Observo Aalyah pegar o livro da mesa e meu coração parece parar por um tempo. Tento pensar em alguma desculpa para tê-lo pegado. - Tia Helo deve saber bem dessa história. - Respiro fundo, sentindo minhas mãos gelarem. - Sério? E você descobriu isso tudo onde? - Depois de tanto tempo, imaginava-se que essa história tinha morrido. Se tornado uma lenda, como era para os trouxas. - É, minha mãe deve ter ouvido falar sim... Mas lendas são lendas, né? - Aalyah pergunta o que eu temia e congelo de vez, posso sentir como se o sangue saísse do meu corpo.  - C-curiosidade, nada importante. Nada importante. - Apenas meneio a cabeça em confirmação à pergunta de Aalyah. Eu definitivamente precisava de ar, de comida, de qualquer coisa que não tivesse relação com essas perguntas. 

Tomo o acento indicado por Aalyah enquanto ela me "examina", ignorando meus protestos. Não poderia haver informação mais chocante para ela me dar. A última coisa que me viria à mente é que em algum momento ela soubesse disso. - Uma água, o resto tanto faz. - Meneio a cabeça tentando afastar qualquer pensamento. Não tenho ideia de como vou contar isso para ela ou se vou contar, para ser sincera. Aalyah volta com um lanche em poucos minutos e sorrio, sorvendo longos goles da água. - Amor, é... uma coisa: essa história que você me contou, relacionada àquele livro, você não pode contar isso pra mais ninguém, ok? Não me pergunte porque, só confia. - Faço sinal para que se sente ao meu lado e entrelaço meus dedos aos dela. - Então, o que fazemos com a informação que conseguimos? Estava pensando em fazer uma pequena pausa no Benin pra fazer uma lista de possíveis tribos.
 

Deixo escapar um sorriso ao ouvir o longo monólogo de Aalyah sobre disfarces. - Como eu disse, eu concordo quanto a disfarces, mas disfarces físicos, amor. Não quero passar mais que um dia no Benin, dois no máximo. Uma quantidade cavalar de polissuco seria perfeita, mas não temos todo esse tempo. Um pulo rápido em algumas lojas já vão ajudar muito, vá por mim. De gente estranha nessa história me bastam os que nos atacam. Roupas, perucas, meia tonelada de maquiagem e não será preciso muito mais que isso. Quanto a hotel, caso precisemos, eu tenho alguns contatos. - Passo o dedo sobre seus lábios, limpando o chantili e sorrio de canto. Apanho um dos salgados e o mordo. - E a senhorita deveria se manter longe desse tipo de gente, longe de mais encrenca. - Sorvo um longo gole do café. - Falei com o dono daquele apartamento mais cedo. Ele disse que podemos fechar o contrato mais tarde, está livre, por algum milagre.
 

- Por contatos, bonitinha, quero dizer um amigo que possui uma rede de hotéis. Posso entrar sem precisar me registrar na portaria. Nada ilegal, como meu bom senso gosta. - Dou risada enquanto Aalyah mistura a bebida. É fato que não há um alimento no mundo que ela seja capaz de comer sem acabar cheia de manchas de molho ou migalhas. - Eu? Me importar? Engano seu, moça! Vai que eu ando com você com essa cara melada e pensam que sou igual? - Brinco, dando um beijo em seu rosto. - Vamos parar com esse amor todo agora antes que nos peçam educadamente para sair. - Reviro os olhos pegando o salgado mordido e dou risada. - Criançona. E sem JP, HP, HD ou qualquer outra pessoa cujo nome se abrevie em duas letras, ok? - Balanço a cabeça indicando concordar com a proposta de Aalyah. - No próximo fim de semana. E as chances de acontecer qualquer coisas são mínimas, só vamos fazer umas pesquisas na imprensa local. - Meus lábios formam uma linha ao ouvir Aalyah pedir por uma lista. Ela já esqueceu? Pelos deuses! - Vou deixar uma lista por ordem de prioridade na cabeceira antes de sair pra trabalhar. 
 

Dou um beliscão no braço de Aalyah para que pare com a imitação e dou-lhe a língua. - Gracinha... Se quiser te arrumo uma universitária metida a Cinderella em cinco minutos. Só não tem troca ou devolução. - Reviro os olhos outra vez enquanto minha noiva briga com os céus pelo recheio do salgado. Tento lhe oferecer o meu, mas ela podia ser bem birrenta quanto a recheios quando queria. Não queira saber como pode ser difícil dividir um pacote de feijõezinhos de todos os sabores com essa mulher. Termino de comer rapidamente, vendo a irritação nos olhos de Aalyah. - Exatamente. Vou ver as regiões de maior incidência e se encontro nomes específicos. Podemos fazer as duas coisas, desde que não fiquemos muito expostas ou demoremos muito. - Me levanto da cadeira, ficando de pé em frente a ela. Passo meus braços ao redor de seu pescoço, acariciando-lhe a nuca. - Vamos lá comprar suas roupas, minha marrenta? Ou quer ficar aí olhando a paisagem?