Eva se encarava no espelho da mesa firma como alguém observa uma pintura bem feita. O vestido de ajustava perfeitamente ao corpo curvilíneo da mulher, que às vezes ficava surpresa — e feliz —, em saber que nem mesmo sua infância nem o treino para cavaleira tinham deixado seu corpo menos feminino. Usava um mero vestido vermelho que era justo, cujo decote não deixava os seios fartos a mostra, mas se abria nas costas até chegar próximo as nádegas da mulher. A pele a mostra deixaria outras mulheres com vergonha; quem gostaria de deixar a vista cicatrizes feias e algumas profundas como aquelas? Mas ela não se importava com aquilo. Sentia orgulho delas, na verdade. Não tinha porque esconder uma parte tão importante de si. Elas estavam ali para lembrá-la de quem era e do que era capaz; era uma Mikhail, e um membro de sua família nunca sente vergonha de suas ações, afinal, são todas meticulosamente calculadas.

Ao sentir que estava perfeita, pegou sua pequena bolsa cujo interior era enorme devido a um feitiço de expansão. Uma rápida olhada lhe deu a certeza de que tinha tudo que poderia ao sair da mansão da família, e com isso ela respirou aliviada. Ao pegar a varinha de aveleira para aparatar, a imagem de Bruce apareceu em sua mente, fazendo um sorriso teimoso se abrir nos lábios da mulher. Eles se conheciam a anos, mas por causa do trabalho, ambos se separaram. Ainda sim, se encontraram diversas vezes na Divisão de Dragões — lugar em que ela trabalhava como cavaleira —, e sempre que um deles precisava ir a Thunderbird, Eva se voluntariava, mesmo que naquela época não soubesse bem o motivo. Contudo, quando Bruce a chamou para um encontro, ela entendeu porque ansiava tanto ir no lugar que trabalhara tão pouco tempo: um bruxo inteligente e carismático era o diretor da organização, e tinha roubado o interesse da cavaleira.

Balançando a cabeça como em uma tentativa de deixar o pensamento de lado, Mikhail aparatou no lugar marcado, encontrando Hughes na porta a sua espera. Estava tão lindo naquele terno que Eva mordeu o lábio inferior, o que parecia mais o ato que alguém que não sabia o que fazer. Guardando a varinha bolsa, ela deu alguns passos até ele, abrindo um grande sorriso quando percebeu que ele a tinha visto — Boa noite, senhor Hughes — saudou-o com o coração meio acelerado. Por Merlin, porque tão lindo?, se perguntou mentalmente, entendendo o porquê tantas mulheres corriam atrás dele.

Os olhos de Eva brilharam quando o homem beijou sua mão. Era uma atitude tão clichê que ela poderia rir, mas ainda achou demasiado fofa a atitude. Ao ouvir suas palavras, a mesma olhou novamente para o vestido, sabendo que o gesto seria interpretado como um toque de insegurança — Obrigada. Você também está divino com essa roupa — disse mexendo na lapela do terno, mesmo que não precisasse. Apenas para dar profundidade as palavras. Logo após, aceitou seu braço, sentindo um arrepio percorrer a pele alva da loira, porque mais que não fizesse frio. Era estranho não ter, pelo primeira vez, 100% de controle sobre certos aspectos de seu corpo. Como era possível alguém tem controlado se arrepiar sem nem ao menos tocar diretamente na pele do rapaz? Ela sentia apenas o calor que o corpo de Bruce emanava e o contorno de seus braços fortes e definidos. Céus, qualquer mulher em seu lugar já teria se atirado nele! Mas ela não era qualquer uma.

Adentrou o restaurante ao lado de Hughes e se admirou com a vista do lugar, que era esplendoroso. Uma rápida olhada permitiu que Eva percebesse que aquele não era um lugar barato, fosse pelas roupas e maneiras altivas que as pessoas usavam ou pela decoração cara e pratos de poucas quantidades mas lindos. Como diria Pogo "um prato não deve ser apenas gostoso. Ele deve ser saboreado pelos olhos, antes". Um garçom logo os acompanhou para uma mesa específica, o que fez com que Mikhail acreditasse que ele tinha reservado antes. Antes de sentar, o diretor da Thunderbird puxou a cadeira para ela, o que a fez sorrir divertida, murmurando para que ele ouvisse: — Que cavalheiro! Será que tirei a sorte grande? — e então se permitiu rir baixo, pegando um dos cardápios. Bruce fora mais rápido, permitindo que Eva pudesse olhar por mais alguns segundos a lista de pratos — Vou querer o Confit de carnad, por gentileza — fora sorte um de seus pratos preferidos da comida francesa estar ali, em um restaurante de Los Angeles, mas Eva se sentia grata por Merlin estar cooperando para não haverem imprevistos ou coisas assim.

Quando o garçom se afastou, a loira se permitiu respirar, voltando a atenção para seu acompanhante — Muito luxuoso para um primeiro encontro. Tentando me impressionar, Bruce? — perguntou em tom de brincadeira, cruzando as pernas por debaixo da mesa, erguendo uma sobrancelha enquanto um lado de seus lábios se curvava em um meio sorriso. Logo o garçom voltou novamente, enchendo ambas as taças com o líquido cor vermelho escuro que logo enchia 1/4 da taça. Quando ele se afastou novamente, Eva segurou com delicadeza o vidro, levando a taça aos lábios para um rápido gole da bebida. Não tentaria impressionar o Hughes fingindo entender de vinhos. Simplesmente não entendia, mas gostava do sabor.

Os lábios de Eva se abriram em um sorriso envergonhado, e logo ela baixava os olhos para formar a imagem de alguém sem jeito. Bruce definitivamente sabia o que falar para uma mulher, mesmo que para algumas, certas frases soassem batidas. Para a loira? Maravilhosas, não importasse quais delas. Ela gostava da maneira como ele se esforçava para arrancar-lhe sorrisos, mesmo que soasse tão clichê. Mas clichê era bom, afinal.

Sua fala sobre vinhos fez com que Mikhail juntasse as sobrancelhas, colocando dois dedos na boca enquanto mostrava vergonha. Outra lição importante que seu pai tinha lhe ensinado na infância, era que os homens gostavam de mulheres envergonhadas perante eles. A vergonha era uma coisa adorável, que fazia, pelo menos na maioria, com que um certo sentimento de proteção fosse criado em seu peito. E era uma das artimanhas que sempre funcionaram — Eu vou ser sincera com você: não entendo nada de vinhos — em seguida ela soltou um riso nervoso, pigarreando para se recompor. Não era apenas os vinhos... Eva simplesmente não tinha um hobbie. Nunca tivera tempo para esse tipo de coisa. Sua vida sempre foi treinar, estudar e explodir a cabeça de homens maus. Nada demais. Colecionar varinhas seria um hobbie?, se perguntou pensativa.

O sorriso de Eva tremeu ligeiramente com a pergunta, mas ela não se deixou abater, fazendo o olhos castanhos brilharem como se estivesse entusiasmada em responder — Quem não quer ter seu próprio dragão? — perguntou a ele em tom de brincadeira, mas de fato fora uma pergunta válida. Qualquer um que virasse cavaleiro queria seu próprio dragão para montar, mas nem todos conseguiam o cargo. Ou duraram tanto tempo quanto eu, adicionou pensativa, pegando a taça de vinho e tomando mais um gole generoso — Por mais que eu sempre tivesse sido fascinada e amar o meu trabalho, foi mais uma ordem do meu pai, na época. Meus irmãos tinham saído de casa e só restamos eu e minha gêmea. Eu sempre levei muito em conta a opinião do meu pai, mesmo que a minha infância e a dos meus irmãos tenha sido... — ela hesitou pela primeira vez em muitos anos. Não entendia que maldito efeito Hughes tinha sobre ela, mas a cavaleira nunca conseguia verdadeiramente atuar com o rapaz.

— Complicada — seu sorriso se alargou novamente, a melancolia ficando para trás — Mas com o tempo descobri ser muito boa nisso, e acabei me apaixonando, por mais que meu desejo como magizoologista fosse ficar em Thunderbird — Mikhail riu, meneando a cabeça em um aceno negativa — E quanto a você, o que te fez ir para Thunderbird? — perguntou estalando a língua, batendo de leve com os dedos de forma que apenas Bruce pudesse ouvir o "som dos tambores".